terça-feira, 5 de julho de 2011

Do realismo filosófico à ciência da história

Ibn Khaldûn vai se orientar em direção a tudo que permite reduzir o caos da historia concreta,  que vive na própria carne, ordenar o fluxo e o refluxo, proporcionar soluções para um futuro real que seja racionalmente possível.
“O centro misterioso dos dogmas da fé é a unicidade divina”. E esse princípio central de ordem vai imprimir sua marca no mundo real. Num primeiro tempo, a especulação pura e impotente para abarcar o real: “Não creias que o pensamento seja capaz de examinar completamente todos os seres e suas causas, de conhecer os detalhes do ser em seu conjunto (...)”.
A razão, assim circunscrita, é uma balança; seu papel é delimitar a causalidade; e esta explica apenas os fenômenos recebidos pelos sentidos. A razão conserva, um lugar importante: mas á um lugar relativo e limitado. A síntese da exigência de objetividade e da necessidade racional encontra, pois, sua forma no realismo, positivo e metódico.
A busca de uma ordem racional que seja também real desembocada muito naturalmente numa busca do método- e não da simples metodologia instrumental - numa predileção sistemática pela matemática, contra, notadamente, a astrologia e a alquimia.


''A mentira se introduz naturalmente na informação histórica, e isso por sete razões principais:
O espirito partidário;
A confiança cega;
A ignorância do significado de um acontecimento;
O excesso de confiança em si;
Os remanejamentos;
As alterações;
A ignorância das características naturais de civilização.''

''O homem é a criança de seus hábitos.''


 Ibn Khaldun


segunda-feira, 27 de junho de 2011

Nascimento de uma problemática

É preciso conservar no espírito esse itinerário de um grande intelectual condottiere, que foi o primeiro dos grandes desbravadores do campo das ciências do homem e da sociedade, o criador da historia científica e da sociologia. Um itinerário que vai permitir compreender a problemática própria à reflexão khalduniana.
A África do Norte da época é uma das grandes dinastias: os  Merínidas do Marrocos ( 1269-1420), os Hafçîdas da Tunísia, Nacrîdas de Granada ( até 1492), Mamelucos do Egito também ( 1250-1517). Mas a luta entre Merínidas e hafcîdas, no curso da qual Ibn  khaldûn inclina-se para o refinamento  cultural dos Merinidas, força-o a abandonar Túnis e a buscar inultimente uma meditação num Maghreb que se entredilecera e toma o caminho da fraqueza e, mais tarde, da decadência.
Ibn khaldûn desliga-se consequentemente  das esferas exclusivamente filosóficas e éticas, para ele o problema político atinge uma tal acuidade que exige algo mais do que  uma interpretação teórica ou uma exegese que se quisesse normativa. Literalmente, chegou o momento de uma abordagem radical em que o pensador se faça ator, testemunhe e lute simultaneamente para esclarecer: “Com relação a essa época, isto é, a ultima parte do século  VIII uma reviravolta geral, da qual somos testemunhas, mudou o estado do Maghreb (...) . E, quando o estado de uma região muda total e radicalmente, é como se o mundo houvesse se transformando em seu conjunto e até os seus fundamentos;  e é então como que uma nova criação, uma nova formação, um mundo novo que aparece. Eis por que é necessário que haja, pra essa época alguém  que registre as transformações dos seres  e das gerações, as mudanças dos hábitos  e nos modos  de vida  e de pensamento, seguindo o caminho traçado por Mas’ûdî; e assim, ele se tornará um modelo que os  historiadores do futuro imitarão.”
Percebe-se o que a história será nas mãos daquele que vai fazer dela uma ciência: rigor na analise do conjunto sociopolítico, de uma lado; busca dos fundamentos da racionalidade no domínio da história das sociedades humanas, de outro lado. A dialética do especifico e do universal, uma dialética voltada para a ação eficaz, única capaz de dar corpo a racionalidade histórica

Biografia

Nasceu em Túnis em 732 A.H. (1332 d.C.) numa família de classe alta que migrou desde Sevilha, no Al-Andalus. Os seus antepassados, Árabes Iemenitas, estabeleceram-se no Al-Andalus nos inícios do domínio Muçulmano da península, durante o século VIII. Depois da queda de Sevilha, migraram para a Tunísia.

Ele é considerado um precursor de várias disciplinas científicas sociais: demografia, história cultural, historiografia, filosofia da história, e sociologia. Ele também é considerado um dos precursores da moderna economia ao lado do antigo erudito indiano Chanakya. Ibn Khaldun é considerado por muitos como o pai de várias destas disciplinas e das ciências sociais em geral, por ter antecipado muitos elementos dessas disciplinas séculos antes de terem sido fundadas no Ocidente. É mais conhecido por seu Muqaddimah (conhecido como Prolegômenos no Ocidente), o primeiro volume de seu livro sobre a história universal, Kitab al-Ibar. Ibn Khaldun é tido por muitos acadêmicos como uma das principais ajudas para a compreensão das sociedades muçulmanas.
Descrição 

Estudante Márcia Denise do 3º período de Licenciatura plena em Filosofia da Universidade Federal do Piauí – UFPI e neste espaço escrevo sobre a vida e obra do filósofo Ibn Khaldún, considerado um precursor de várias disciplinas científicas sociais, dentre elas a ciência histórica e a sociologia.